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domingo, 24 de outubro de 2010

Os contos de Beedle, o bardo - O coração peludo do mago

O CORAÇÃO PELUDO DO MAGO


Era uma vez um jovem mago rico, bonito e talentoso, que observou
que seus amigos agiam como tolos quando se apaixonavam, se
enfeitando, andando aos saltos e corridinhas, perdendo o apetite e a
dignidade. O jovem mO CORAÇÃO PELUDO DO MAGO
Era uma vez um jovem mago rico, bonito e talentoso, que observou
que seus amigos agiam como tolos quando se apaixonavam, se
enfeitando, andando aos saltos e corridinhas, perdendo o apetite e a
dignidade. O jovem mago resolveu jamais se deixar dominar por tal
fraqueza, e recorreu às artes das trevas para garantir sua
imunidade.
Sem saber do seu segredo, a família do mago achava graça de vêlo
tão distante e frio.
"Tudo mudará", vaticinavam eles, "quando uma donzela atrair seu
interesse!"
O jovem mago, porém, permanecia impassível. Embora muita
donzela se sentisse intrigada por seu ar altivo e recorresse às artes
mais sutis para agradá-lo, nenhuma conseguia tocar seu coração.
Ele se vangloriava de sua indiferença e da sagacidade que a
produzira.
O frescor da juventude foi dissipando-se e os jovens de mesma
idade e posição que o mago começaram a casar e a ter filhos.
"O coração deles deve ser apenas uma casca", desdenhava ele
mentalmente, observando o ridículo comportamento dos jovens
pais ao seu redor, "ressecada pelas exigências desses pirralhos
chorões!"
E mais uma vez ele se felicitou pela sabedoria da opção que fizera
no primeiro momento.
No devido tempo, os pais do mago, já idosos, faleceram. O filho não
lamentou a morte deles; ao contrário, considerou-se abençoado por
terem desaparecido. Agora ele reinava sozinho em seu castelo.
Depois de transferir o seu maior tesouro para a masmorra mais
profunda, ele se entregou a uma vida desregrada e farta, na qual o
seu conforto era o único objetivo dos inúmeros criados.
O mago estava convencido de que devia ser alvo da imensa inveja de
todos que contemplavam sua solidão esplêndida e despreocupada.
Feroz, portanto, foi sua raiva e desgosto, quando um dia ouviu dois
dos lacaios discutindo a sua pessoa.
O primeiro criado manifestou pena do mago que, com tanto poder
e riqueza, continuava sem alguém que o amasse.
Seu colega, entretanto, desdenhou, perguntando por que um
homem com tanto ouro e dono de tão esplêndido castelo não fora
capaz de atrair uma esposa.
Tal conversa desferiu um terrível golpe no orgulho do mago que os
ouvia.
Ele decidiu imediatamente escolher uma esposa, e uma que fosse
superior a todas as existentes. Possuiria uma beleza assombrosa e
provocaria inveja e desejo em todo homem que a contemplasse;
descenderia de uma linhagem mágica para que seus filhos herdassem
excepcionais dons de magia; e seria dona de uma fortuna no mínimo
igual à dele, para garantir sua confortável existência, apesar do
acréscimo de pessoas e despesas.
Encontrar tal mulher talvez levasse cinquenta anos, mas aconteceu
que, no dia seguinte à sua decisão, chegou à vizinhança, em visita a
parentes, uma donzela que correspondia a todos os seus desejos.
Era uma bruxa de prodigioso talento e dona de grande riqueza.
Sua beleza era tanta que mexia com o coração de todos os homens
que a contemplavam, isto é, todos, exceto um. O coração do mago
não sentiu absolutamente nada. Contudo, a moça era o prêmio que
ele buscava, e, assim sendo, começou a cortejá-la.
Todos que notaram a mudança no comportamento do mago
ficaram surpresos e disseram à donzela que ela tivera êxito, onde
uma centena de outras havia fracassado.
A jovem, por sua vez, sentiu ao mesmo tempo fascínio e repulsa
pelas atenções do mago. Ela pressentiu a frieza que havia sob o
calor de suas lisonjas, pois jamais conhecera um homem tão
estranho e distante. Seus parentes, contudo, consideraram essa
união extremamente desejável e, muito interessados em promovêla,
aceitaram o convite do mago para um grande banquete em
homenagem à donzela.
A mesa, carregada com peças de ouro e prata, continha os mais
finos vinhos e as comidas mais suntuosas. Menestréis dedilhavam
alaúdes de cordas sedosas e cantavam um amor que o seu senhor
jamais sentira. A donzela sentou-se em um trono ao lado do mago,
que lhe falava suavemente, empregando palavras de carinho que
roubara dos poetas, sem a mínima idéia do seu real significado.
A donzela ouvia, intrigada, e por fim respondeu:
- Você fala bonito, mago, e eu ficaria encantada com suas atenções,
se ao menos acreditasse que você tem coração!
O mago sorriu e lhe respondeu que, quanto a isso, ela não precisava
temer. Pediu-lhe que o acompanhasse e, conduzindo-a para fora do
salão, desceu à masmorra trancada à chave onde guardava o seu
maior tesouro.
Ali, em uma caixa de cristal encantada, encontrava-se o coração
pulsante do mago.
Há muito tempo desligado dos olhos, ouvidos e dedos, o coração
jamais se deixara cativar pela beleza, ou por uma voz musical, ou
pelo tato de uma pele sedosa. A donzela ficou aterrorizada ao vê-lo,
pois o coração encolhera e se cobrira de longos pêlos negros.
— Ah, o que você fez! — lamentou ela. — Reponha o coração no
lugar a que pertence, eu lhe imploro!
Ao perceber que isto era necessário para agradá-la, o mago apanhou
a varinha, destrancou a caixa de cristal, abriu o próprio peito e
repôs o coração peludo na cavidade vazia que outrora ocupara.
- Agora você está curado e conhecerá o verdadeiro amor! —
exclamou a donzela e abraçou-o.
O toque dos macios braços alvos da donzela, o som de sua
respiração no ouvido dele, o aroma dos seus cabelos dourados;
tudo isto penetrou como uma lança o seu coração recémdespertado.
Mas o órgão se corrompera durante o longo exílio, cego
e selvagem na escuridão a que fora condenado, seus apetites
tinham se tornado vorazes e perversos.
Os convidados ao banquete notaram a ausência do anfitrião e da
donzela. A princípio despreocupados, começaram, porém, a se
sentir ansiosos à medida que as horas passavam e, por fim,
decidiram revistar o castelo.
Acabaram encontrando a masmorra, onde uma cena aterrorizante
os aguardava.
A donzela jazia morta no chão, de peito aberto, e ao seu lado
ajoelhava-se o mago enlouquecido, segurando em uma das mãos
ensanguentadas um grande e reluzente coração, que ele lambia e
acariciava, jurando trocá-lo pelo seu.
Na outra mão, ele empunhava a varinha, tentando induzir o
coração murcho e peludo a sair do próprio peito. O coração,
porém, era mais forte do que ele e se recusou a renunciar ao
controle dos seus sentidos ou a retornar à urna em que estivera
trancado por tanto tempo.
Diante do olhar aterrorizado dos convidados, o mago atirou para
um lado a varinha e agarrou uma adaga de prata. Jurando jamais
ser dominado pelo próprio coração, arrancou-o do peito.
Por um momento, o mago permaneceu de joelhos, triunfante,
segurando um coração em cada mão; em seguida caiu atravessado
sobre o corpo da donzela e morreu.
Comentários de Alvo Dumbledore sobre
"O coração peludo do mago"
Vimos anteriormente que os dois primeiros contos de Beedle
atraíram críticas por seus temas de generosidade, tolerância e
amor. "O coração peludo do mago", no entanto, não parece ter
sofrido alterações nem muitas críticas nas centenas de anos que
transcorreram desde que foi escrito; a história, quando afinal a li
nas runas originais, era quase exatamente igual à que minha
mãe me contara. Dito isto, "O coração peludo do mago" é de
longe a mais horripilante das dádivas de Beedle, e muitos pais
não a compartilham com os filhos até achar que eles têm idade
suficiente para não ter pesadelos.1
1 Segundo registrou em seu próprio diário, Beatrix Bloxam jamais
se recuperou do abalo de ter ouvido a tia contar essa história às
suas primas mais velhas. "Por acaso, a minha orelhinha encostou
no buraco da fechadura. Só posso imaginar que devo ter ficado
paralisada de horror, uma vez que ouvi involuntariamente a
repulsiva história, sem falar nos detalhes chocantes do caso
muitíssimo imoral do meu tio Nobby, a megera local e um saco de
bulbos saltadores. O choque quase me matou; passei uma
semana de cama e tão profundamente traumatizada que
desenvolvi o hábito de andar durante o sono e toda noite
espreitar à mesma fechadura, até que o meu querido pai, zelando
pelo meu bem, pôs um Feitiço Adesivo na minha porta na hora de
dormir." Aparentemente, Beatrix não conseguiu uma maneira de
adequar "O coração peludo do mago" aos ouvidos sensíveis das
crianças, pois jamais o reescreveu para Os contos do chapéu-desapo.
Como explicar, então, a sobrevivência desse conto macabro? Eu
argumentaria que "O coração peludo do mago" sobreviveu intacto
através dos séculos porque fala às profundezas sombrias do nosso
ser. Aborda uma das tentações maiores e menos admissíveis em
magia: a busca da invulnerabilidade.
Naturalmente, tal busca é nada mais nada menos que uma vã
fantasia. Nenhum homem ou mulher vivos, mágicos ou não,
jamais escapou de alguma forma de lesão, seja física, seja mental
ou emocional. Ferir-se é tão humano quanto respirar. Apesar
disso, nós bruxos parecemos particularmente favoráveis à idéia de
que podemos dobrar a natureza da existência à nossa vontade. O
jovem mago2 dessa história, por exemplo, conclui que a paixão
afeta, adversamente, o seu conforto e segurança. Ele vê o amor
como uma humilhação, uma fraqueza, um desperdício dos
recursos materiais e emocionais de uma pessoa.
2 [O termo "mago" usado para se referir ao protagonista desse
conto é muito antigo. Embora seja intercambiável com "bruxo",
designou originalmente aquele que aprendeu as artes marciais e
duelísticas próprias da magia. Era também um título concedido a
bruxos que tivessem realizado feitos de bravura, tal como os
trouxas são por vezes nomeados cavaleiros por atos de valor. Ao
chamar o jovem bruxo dessa história de "mago", Beedle indica que
ele já era reconhecido por sua especial perícia em magia ofensiva.
Em nossos dias, "mago" é usado de duas maneiras: na descrição
de um bruxo de aparência excepcionalmente feroz, ou como um
título indicativo de extraordinário talento ou realização. Assim,
Dumbledore, um mago, é bruxo-presidente da Suprema Corte dos
Bruxos. JKR]
Naturalmente, o comércio secular de poções de amor comprova
que o nosso mago ficcional não está sozinho quando busca
controlar o curso imprevisível do amor. A pesquisa para encontrar
uma verdadeira poção do amor3 tem continuado até os nossos
dias, mas tal elixir ainda não foi criado, e eminentes preparadores
de poções duvidam que isto seja possível.
3 Hector Dagworth-Granger, fundador da Mui Extraordinária
Sociedade dos Preparadores de Poções, explica: "Violentas
paixonites podem ser induzidas por um competente preparador de
poções, mas até hoje ninguém conseguiu criar o vínculo
verdadeiramente incondicional, eterno, irrompível, o único que
pode ser chamado de Amor."
O herói desse conto, no entanto, não está sequer interessado em
um simulacro de amor que ele possa criar ou destruir a seu belprazer.
Quer permanecer imune àquilo que ele considera uma
espécie de fraqueza e, portanto, executa um feitiço das trevas
que não seria possível fora de um livro de histórias: guarda a sete
chaves o seu coração.
Muitos autores observaram a semelhança deste ato com a criação
de uma Horcrux. Embora o herói de Beedle não esteja
procurando evitar a morte, como Tom Riddle, está separando o
que evidentemente não deve ser separado — o corpo e o coração —
e, ao fazê-lo, infringe a primeira das Leis Fundamentais da Magia
de Adalberto Waffling:
Somente interfira com os mistérios mais profundos — a origem da
vida, a essência do eu — se estiver preparado para enfrentar as
consequências mais extremas e perigosas.
E, efetivamente, ao procurar se tornar sobre-humano, esse jovem
imprudente se torna inumano. O coração que ele guardou,
escondido, lentamente murcha e cria pêlos, simbolizando sua
própria descida à animalidade. Finalmente, o bruxo é reduzido a
um violento animal que arrebata o que quer à força, e morre na
inútil tentativa de recuperar aquilo que, então, estava para
sempre fora do seu alcance - um coração humano.
Embora um tanto antiquada, a expressão inglesa "ter um coração
peludo" foi incorporada à linguagem cotidiana para descrever um
bruxo ou bruxa frio ou insensível. Honória, minha tia solteirona,
sempre alegou que desmanchara um noivado com um bruxo da
Seção de Controle do Uso Indevido da Magia porque descobriu em
tempo que "ele possuía um coração peludo". (Corria, porém, o
boato de que, na realidade, ela o surpreendera acariciando
libidinosamente uns toletes,4 o que julgou profundamente
chocante.) Mais recentemente, o livro de auto-ajuda O coração
peludo: um guia para bruxos que não querem se comprometer (5)
encabeçou a lista dos mais vendidos.
4 Toletes são seres rosados, semelhantes a cogumelos cerdosos. É
difícil entender por que alguém iria querer acariciá-los. Maiores
informações em Animais fantásticos & onde habitam.
5 Não deve ser confundido com Focinho peludo, coração humano,
um relato comovente da luta de um homem contra a licantropia.
4ago resolveu jamais se deixar dominar por tal
fraqueza, e recorreu às artes das trevas para garantir sua
imunidade.
Sem saber do seu segredo, a família do mago achava graça de vêlo
tão distante e frio.
"Tudo mudará", vaticinavam eles, "quando uma donzela atrair seu
interesse!"
O jovem mago, porém, permanecia impassível. Embora muita
donzela se sentisse intrigada por seu ar altivo e recorresse às artes
mais sutis para agradá-lo, nenhuma conseguia tocar seu coração.
Ele se vangloriava de sua indiferença e da sagacidade que a
produzira.
O frescor da juventude foi dissipando-se e os jovens de mesma
idade e posição que o mago começaram a casar e a ter filhos.
"O coração deles deve ser apenas uma casca", desdenhava ele
mentalmente, observando o ridículo comportamento dos jovens
pais ao seu redor, "ressecada pelas exigências desses pirralhos
chorões!"
E mais uma vez ele se felicitou pela sabedoria da opção que fizera
no primeiro momento.
No devido tempo, os pais do mago, já idosos, faleceram. O filho não
lamentou a morte deles; ao contrário, considerou-se abençoado por
terem desaparecido. Agora ele reinava sozinho em seu castelo.
Depois de transferir o seu maior tesouro para a masmorra mais
profunda, ele se entregou a uma vida desregrada e farta, na qual o
seu conforto era o único objetivo dos inúmeros criados.
O mago estava convencido de que devia ser alvo da imensa inveja de
todos que contemplavam sua solidão esplêndida e despreocupada.
Feroz, portanto, foi sua raiva e desgosto, quando um dia ouviu dois
dos lacaios discutindo a sua pessoa.
O primeiro criado manifestou pena do mago que, com tanto poder
e riqueza, continuava sem alguém que o amasse.
Seu colega, entretanto, desdenhou, perguntando por que um
homem com tanto ouro e dono de tão esplêndido castelo não fora
capaz de atrair uma esposa.
Tal conversa desferiu um terrível golpe no orgulho do mago que os
ouvia.
Ele decidiu imediatamente escolher uma esposa, e uma que fosse
superior a todas as existentes. Possuiria uma beleza assombrosa e
provocaria inveja e desejo em todo homem que a contemplasse;
descenderia de uma linhagem mágica para que seus filhos herdassem
excepcionais dons de magia; e seria dona de uma fortuna no mínimo
igual à dele, para garantir sua confortável existência, apesar do
acréscimo de pessoas e despesas.
Encontrar tal mulher talvez levasse cinquenta anos, mas aconteceu
que, no dia seguinte à sua decisão, chegou à vizinhança, em visita a
parentes, uma donzela que correspondia a todos os seus desejos.
Era uma bruxa de prodigioso talento e dona de grande riqueza.
Sua beleza era tanta que mexia com o coração de todos os homens
que a contemplavam, isto é, todos, exceto um. O coração do mago
não sentiu absolutamente nada. Contudo, a moça era o prêmio que
ele buscava, e, assim sendo, começou a cortejá-la.
Todos que notaram a mudança no comportamento do mago
ficaram surpresos e disseram à donzela que ela tivera êxito, onde
uma centena de outras havia fracassado.
A jovem, por sua vez, sentiu ao mesmo tempo fascínio e repulsa
pelas atenções do mago. Ela pressentiu a frieza que havia sob o
calor de suas lisonjas, pois jamais conhecera um homem tão
estranho e distante. Seus parentes, contudo, consideraram essa
união extremamente desejável e, muito interessados em promovêla,
aceitaram o convite do mago para um grande banquete em
homenagem à donzela.
A mesa, carregada com peças de ouro e prata, continha os mais
finos vinhos e as comidas mais suntuosas. Menestréis dedilhavam
alaúdes de cordas sedosas e cantavam um amor que o seu senhor
jamais sentira. A donzela sentou-se em um trono ao lado do mago,
que lhe falava suavemente, empregando palavras de carinho que
roubara dos poetas, sem a mínima idéia do seu real significado.
A donzela ouvia, intrigada, e por fim respondeu:
- Você fala bonito, mago, e eu ficaria encantada com suas atenções,
se ao menos acreditasse que você tem coração!
O mago sorriu e lhe respondeu que, quanto a isso, ela não precisava
temer. Pediu-lhe que o acompanhasse e, conduzindo-a para fora do
salão, desceu à masmorra trancada à chave onde guardava o seu
maior tesouro.
Ali, em uma caixa de cristal encantada, encontrava-se o coração
pulsante do mago.
Há muito tempo desligado dos olhos, ouvidos e dedos, o coração
jamais se deixara cativar pela beleza, ou por uma voz musical, ou
pelo tato de uma pele sedosa. A donzela ficou aterrorizada ao vê-lo,
pois o coração encolhera e se cobrira de longos pêlos negros.
— Ah, o que você fez! — lamentou ela. — Reponha o coração no
lugar a que pertence, eu lhe imploro!
Ao perceber que isto era necessário para agradá-la, o mago apanhou
a varinha, destrancou a caixa de cristal, abriu o próprio peito e
repôs o coração peludo na cavidade vazia que outrora ocupara.
- Agora você está curado e conhecerá o verdadeiro amor! —
exclamou a donzela e abraçou-o.
O toque dos macios braços alvos da donzela, o som de sua
respiração no ouvido dele, o aroma dos seus cabelos dourados;
tudo isto penetrou como uma lança o seu coração recémdespertado.
Mas o órgão se corrompera durante o longo exílio, cego
e selvagem na escuridão a que fora condenado, seus apetites
tinham se tornado vorazes e perversos.
Os convidados ao banquete notaram a ausência do anfitrião e da
donzela. A princípio despreocupados, começaram, porém, a se
sentir ansiosos à medida que as horas passavam e, por fim,
decidiram revistar o castelo.
Acabaram encontrando a masmorra, onde uma cena aterrorizante
os aguardava.
A donzela jazia morta no chão, de peito aberto, e ao seu lado
ajoelhava-se o mago enlouquecido, segurando em uma das mãos
ensanguentadas um grande e reluzente coração, que ele lambia e
acariciava, jurando trocá-lo pelo seu.
Na outra mão, ele empunhava a varinha, tentando induzir o
coração murcho e peludo a sair do próprio peito. O coração,
porém, era mais forte do que ele e se recusou a renunciar ao
controle dos seus sentidos ou a retornar à urna em que estivera
trancado por tanto tempo.
Diante do olhar aterrorizado dos convidados, o mago atirou para
um lado a varinha e agarrou uma adaga de prata. Jurando jamais
ser dominado pelo próprio coração, arrancou-o do peito.
Por um momento, o mago permaneceu de joelhos, triunfante,
segurando um coração em cada mão; em seguida caiu atravessado
sobre o corpo da donzela e morreu.
Comentários de Alvo Dumbledore sobre
"O coração peludo do mago"
Vimos anteriormente que os dois primeiros contos de Beedle
atraíram críticas por seus temas de generosidade, tolerância e
amor. "O coração peludo do mago", no entanto, não parece ter
sofrido alterações nem muitas críticas nas centenas de anos que
transcorreram desde que foi escrito; a história, quando afinal a li
nas runas originais, era quase exatamente igual à que minha
mãe me contara. Dito isto, "O coração peludo do mago" é de
longe a mais horripilante das dádivas de Beedle, e muitos pais
não a compartilham com os filhos até achar que eles têm idade
suficiente para não ter pesadelos.1
1 Segundo registrou em seu próprio diário, Beatrix Bloxam jamais
se recuperou do abalo de ter ouvido a tia contar essa história às
suas primas mais velhas. "Por acaso, a minha orelhinha encostou
no buraco da fechadura. Só posso imaginar que devo ter ficado
paralisada de horror, uma vez que ouvi involuntariamente a
repulsiva história, sem falar nos detalhes chocantes do caso
muitíssimo imoral do meu tio Nobby, a megera local e um saco de
bulbos saltadores. O choque quase me matou; passei uma
semana de cama e tão profundamente traumatizada que
desenvolvi o hábito de andar durante o sono e toda noite
espreitar à mesma fechadura, até que o meu querido pai, zelando
pelo meu bem, pôs um Feitiço Adesivo na minha porta na hora de
dormir." Aparentemente, Beatrix não conseguiu uma maneira de
adequar "O coração peludo do mago" aos ouvidos sensíveis das
crianças, pois jamais o reescreveu para Os contos do chapéu-desapo.
Como explicar, então, a sobrevivência desse conto macabro? Eu
argumentaria que "O coração peludo do mago" sobreviveu intacto
através dos séculos porque fala às profundezas sombrias do nosso
ser. Aborda uma das tentações maiores e menos admissíveis em
magia: a busca da invulnerabilidade.
Naturalmente, tal busca é nada mais nada menos que uma vã
fantasia. Nenhum homem ou mulher vivos, mágicos ou não,
jamais escapou de alguma forma de lesão, seja física, seja mental
ou emocional. Ferir-se é tão humano quanto respirar. Apesar
disso, nós bruxos parecemos particularmente favoráveis à idéia de
que podemos dobrar a natureza da existência à nossa vontade. O
jovem mago2 dessa história, por exemplo, conclui que a paixão
afeta, adversamente, o seu conforto e segurança. Ele vê o amor
como uma humilhação, uma fraqueza, um desperdício dos
recursos materiais e emocionais de uma pessoa.
2 [O termo "mago" usado para se referir ao protagonista desse
conto é muito antigo. Embora seja intercambiável com "bruxo",
designou originalmente aquele que aprendeu as artes marciais e
duelísticas próprias da magia. Era também um título concedido a
bruxos que tivessem realizado feitos de bravura, tal como os
trouxas são por vezes nomeados cavaleiros por atos de valor. Ao
chamar o jovem bruxo dessa história de "mago", Beedle indica que
ele já era reconhecido por sua especial perícia em magia ofensiva.
Em nossos dias, "mago" é usado de duas maneiras: na descrição
de um bruxo de aparência excepcionalmente feroz, ou como um
título indicativo de extraordinário talento ou realização. Assim,
Dumbledore, um mago, é bruxo-presidente da Suprema Corte dos
Bruxos. JKR]
Naturalmente, o comércio secular de poções de amor comprova
que o nosso mago ficcional não está sozinho quando busca
controlar o curso imprevisível do amor. A pesquisa para encontrar
uma verdadeira poção do amor3 tem continuado até os nossos
dias, mas tal elixir ainda não foi criado, e eminentes preparadores
de poções duvidam que isto seja possível.
3 Hector Dagworth-Granger, fundador da Mui Extraordinária
Sociedade dos Preparadores de Poções, explica: "Violentas
paixonites podem ser induzidas por um competente preparador de
poções, mas até hoje ninguém conseguiu criar o vínculo
verdadeiramente incondicional, eterno, irrompível, o único que
pode ser chamado de Amor."
O herói desse conto, no entanto, não está sequer interessado em
um simulacro de amor que ele possa criar ou destruir a seu belprazer.
Quer permanecer imune àquilo que ele considera uma
espécie de fraqueza e, portanto, executa um feitiço das trevas
que não seria possível fora de um livro de histórias: guarda a sete
chaves o seu coração.
Muitos autores observaram a semelhança deste ato com a criação
de uma Horcrux. Embora o herói de Beedle não esteja
procurando evitar a morte, como Tom Riddle, está separando o
que evidentemente não deve ser separado — o corpo e o coração —
e, ao fazê-lo, infringe a primeira das Leis Fundamentais da Magia
de Adalberto Waffling:
Somente interfira com os mistérios mais profundos — a origem da
vida, a essência do eu — se estiver preparado para enfrentar as
consequências mais extremas e perigosas.
E, efetivamente, ao procurar se tornar sobre-humano, esse jovem
imprudente se torna inumano. O coração que ele guardou,
escondido, lentamente murcha e cria pêlos, simbolizando sua
própria descida à animalidade. Finalmente, o bruxo é reduzido a
um violento animal que arrebata o que quer à força, e morre na
inútil tentativa de recuperar aquilo que, então, estava para
sempre fora do seu alcance - um coração humano.
Embora um tanto antiquada, a expressão inglesa "ter um coração
peludo" foi incorporada à linguagem cotidiana para descrever um
bruxo ou bruxa frio ou insensível. Honória, minha tia solteirona,
sempre alegou que desmanchara um noivado com um bruxo da
Seção de Controle do Uso Indevido da Magia porque descobriu em
tempo que "ele possuía um coração peludo". (Corria, porém, o
boato de que, na realidade, ela o surpreendera acariciando
libidinosamente uns toletes,4 o que julgou profundamente
chocante.) Mais recentemente, o livro de auto-ajuda O coração
peludo: um guia para bruxos que não querem se comprometer (5)
encabeçou a lista dos mais vendidos.O CORAÇÃO PELUDO DO MAGO
Era uma vez um jovem mago rico, bonito e talentoso, que observou
que seus amigos agiam como tolos quando se apaixonavam, se
enfeitando, andando aos saltos e corridinhas, perdendo o apetite e a
dignidade. O jovem mago resolveu jamais se deixar dominar por tal
fraqueza, e recorreu às artes das trevas para garantir sua
imunidade.
Sem saber do seu segredo, a família do mago achava graça de vêlo
tão distante e frio.
"Tudo mudará", vaticinavam eles, "quando uma donzela atrair seu
interesse!"
O jovem mago, porém, permanecia impassível. Embora muita
donzela se sentisse intrigada por seu ar altivo e recorresse às artes
mais sutis para agradá-lo, nenhuma conseguia tocar seu coração.
Ele se vangloriava de sua indiferença e da sagacidade que a
produzira.
O frescor da juventude foi dissipando-se e os jovens de mesma
idade e posição que o mago começaram a casar e a ter filhos.
"O coração deles deve ser apenas uma casca", desdenhava ele
mentalmente, observando o ridículo comportamento dos jovens
pais ao seu redor, "ressecada pelas exigências desses pirralhos
chorões!"
E mais uma vez ele se felicitou pela sabedoria da opção que fizera
no primeiro momento.
No devido tempo, os pais do mago, já idosos, faleceram. O filho não
lamentou a morte deles; ao contrário, considerou-se abençoado por
terem desaparecido. Agora ele reinava sozinho em seu castelo.
Depois de transferir o seu maior tesouro para a masmorra mais
profunda, ele se entregou a uma vida desregrada e farta, na qual o
seu conforto era o único objetivo dos inúmeros criados.
O mago estava convencido de que devia ser alvo da imensa inveja de
todos que contemplavam sua solidão esplêndida e despreocupada.
Feroz, portanto, foi sua raiva e desgosto, quando um dia ouviu dois
dos lacaios discutindo a sua pessoa.
O primeiro criado manifestou pena do mago que, com tanto poder
e riqueza, continuava sem alguém que o amasse.
Seu colega, entretanto, desdenhou, perguntando por que um
homem com tanto ouro e dono de tão esplêndido castelo não fora
capaz de atrair uma esposa.
Tal conversa desferiu um terrível golpe no orgulho do mago que os
ouvia.
Ele decidiu imediatamente escolher uma esposa, e uma que fosse
superior a todas as existentes. Possuiria uma beleza assombrosa e
provocaria inveja e desejo em todo homem que a contemplasse;
descenderia de uma linhagem mágica para que seus filhos herdassem
excepcionais dons de magia; e seria dona de uma fortuna no mínimo
igual à dele, para garantir sua confortável existência, apesar do
acréscimo de pessoas e despesas.
Encontrar tal mulher talvez levasse cinquenta anos, mas aconteceu
que, no dia seguinte à sua decisão, chegou à vizinhança, em visita a
parentes, uma donzela que correspondia a todos os seus desejos.
Era uma bruxa de prodigioso talento e dona de grande riqueza.
Sua beleza era tanta que mexia com o coração de todos os homens
que a contemplavam, isto é, todos, exceto um. O coração do mago
não sentiu absolutamente nada. Contudo, a moça era o prêmio que
ele buscava, e, assim sendo, começou a cortejá-la.
Todos que notaram a mudança no comportamento do mago
ficaram surpresos e disseram à donzela que ela tivera êxito, onde
uma centena de outras havia fracassado.
A jovem, por sua vez, sentiu ao mesmo tempo fascínio e repulsa
pelas atenções do mago. Ela pressentiu a frieza que havia sob o
calor de suas lisonjas, pois jamais conhecera um homem tão
estranho e distante. Seus parentes, contudo, consideraram essa
união extremamente desejável e, muito interessados em promovêla,
aceitaram o convite do mago para um grande banquete em
homenagem à donzela.
A mesa, carregada com peças de ouro e prata, continha os mais
finos vinhos e as comidas mais suntuosas. Menestréis dedilhavam
alaúdes de cordas sedosas e cantavam um amor que o seu senhor
jamais sentira. A donzela sentou-se em um trono ao lado do mago,
que lhe falava suavemente, empregando palavras de carinho que
roubara dos poetas, sem a mínima idéia do seu real significado.
A donzela ouvia, intrigada, e por fim respondeu:
- Você fala bonito, mago, e eu ficaria encantada com suas atenções,
se ao menos acreditasse que você tem coração!
O mago sorriu e lhe respondeu que, quanto a isso, ela não precisava
temer. Pediu-lhe que o acompanhasse e, conduzindo-a para fora do
salão, desceu à masmorra trancada à chave onde guardava o seu
maior tesouro.
Ali, em uma caixa de cristal encantada, encontrava-se o coração
pulsante do mago.
Há muito tempo desligado dos olhos, ouvidos e dedos, o coração
jamais se deixara cativar pela beleza, ou por uma voz musical, ou
pelo tato de uma pele sedosa. A donzela ficou aterrorizada ao vê-lo,
pois o coração encolhera e se cobrira de longos pêlos negros.
— Ah, o que você fez! — lamentou ela. — Reponha o coração no
lugar a que pertence, eu lhe imploro!
Ao perceber que isto era necessário para agradá-la, o mago apanhou
a varinha, destrancou a caixa de cristal, abriu o próprio peito e
repôs o coração peludo na cavidade vazia que outrora ocupara.
- Agora você está curado e conhecerá o verdadeiro amor! —
exclamou a donzela e abraçou-o.
O toque dos macios braços alvos da donzela, o som de sua
respiração no ouvido dele, o aroma dos seus cabelos dourados;
tudo isto penetrou como uma lança o seu coração recémdespertado.
Mas o órgão se corrompera durante o longo exílio, cego
e selvagem na escuridão a que fora condenado, seus apetites
tinham se tornado vorazes e perversos.
Os convidados ao banquete notaram a ausência do anfitrião e da
donzela. A princípio despreocupados, começaram, porém, a se
sentir ansiosos à medida que as horas passavam e, por fim,
decidiram revistar o castelo.
Acabaram encontrando a masmorra, onde uma cena aterrorizante
os aguardava.
A donzela jazia morta no chão, de peito aberto, e ao seu lado
ajoelhava-se o mago enlouquecido, segurando em uma das mãos
ensanguentadas um grande e reluzente coração, que ele lambia e
acariciava, jurando trocá-lo pelo seu.
Na outra mão, ele empunhava a varinha, tentando induzir o
coração murcho e peludo a sair do próprio peito. O coração,
porém, era mais forte do que ele e se recusou a renunciar ao
controle dos seus sentidos ou a retornar à urna em que estivera
trancado por tanto tempo.
Diante do olhar aterrorizado dos convidados, o mago atirou para
um lado a varinha e agarrou uma adaga de prata. Jurando jamais
ser dominado pelo próprio coração, arrancou-o do peito.
Por um momento, o mago permaneceu de joelhos, triunfante,
segurando um coração em cada mão; em seguida caiu atravessado
sobre o corpo da donzela e morreu.
Comentários de Alvo Dumbledore sobre
"O coração peludo do mago"
Vimos anteriormente que os dois primeiros contos de Beedle
atraíram críticas por seus temas de generosidade, tolerância e
amor. "O coração peludo do mago", no entanto, não parece ter
sofrido alterações nem muitas críticas nas centenas de anos que
transcorreram desde que foi escrito; a história, quando afinal a li
nas runas originais, era quase exatamente igual à que minha
mãe me contara. Dito isto, "O coração peludo do mago" é de
longe a mais horripilante das dádivas de Beedle, e muitos pais
não a compartilham com os filhos até achar que eles têm idade
suficiente para não ter pesadelos.1
1 Segundo registrou em seu próprio diário, Beatrix Bloxam jamais
se recuperou do abalo de ter ouvido a tia contar essa história às
suas primas mais velhas. "Por acaso, a minha orelhinha encostou
no buraco da fechadura. Só posso imaginar que devo ter ficado
paralisada de horror, uma vez que ouvi involuntariamente a
repulsiva história, sem falar nos detalhes chocantes do caso
muitíssimo imoral do meu tio Nobby, a megera local e um saco de
bulbos saltadores. O choque quase me matou; passei uma
semana de cama e tão profundamente traumatizada que
desenvolvi o hábito de andar durante o sono e toda noite
espreitar à mesma fechadura, até que o meu querido pai, zelando
pelo meu bem, pôs um Feitiço Adesivo na minha porta na hora de
dormir." Aparentemente, Beatrix não conseguiu uma maneira de
adequar "O coração peludo do mago" aos ouvidos sensíveis das
crianças, pois jamais o reescreveu para Os contos do chapéu-desapo.
Como explicar, então, a sobrevivência desse conto macabro? Eu
argumentaria que "O coração peludo do mago" sobreviveu intacto
através dos séculos porque fala às profundezas sombrias do nosso
ser. Aborda uma das tentações maiores e menos admissíveis em
magia: a busca da invulnerabilidade.
Naturalmente, tal busca é nada mais nada menos que uma vã
fantasia. Nenhum homem ou mulher vivos, mágicos ou não,
jamais escapou de alguma forma de lesão, seja física, seja mental
ou emocional. Ferir-se é tão humano quanto respirar. Apesar
disso, nós bruxos parecemos particularmente favoráveis à idéia de
que podemos dobrar a natureza da existência à nossa vontade. O
jovem mago2 dessa história, por exemplo, conclui que a paixão
afeta, adversamente, o seu conforto e segurança. Ele vê o amor
como uma humilhação, uma fraqueza, um desperdício dos
recursos materiais e emocionais de uma pessoa.
2 [O termo "mago" usado para se referir ao protagonista desse
conto é muito antigo. Embora seja intercambiável com "bruxo",
designou originalmente aquele que aprendeu as artes marciais e
duelísticas próprias da magia. Era também um título concedido a
bruxos que tivessem realizado feitos de bravura, tal como os
trouxas são por vezes nomeados cavaleiros por atos de valor. Ao
chamar o jovem bruxo dessa história de "mago", Beedle indica que
ele já era reconhecido por sua especial perícia em magia ofensiva.
Em nossos dias, "mago" é usado de duas maneiras: na descrição
de um bruxo de aparência excepcionalmente feroz, ou como um
título indicativo de extraordinário talento ou realização. Assim,
Dumbledore, um mago, é bruxo-presidente da Suprema Corte dos
Bruxos. JKR]
Naturalmente, o comércio secular de poções de amor comprova
que o nosso mago ficcional não está sozinho quando busca
controlar o curso imprevisível do amor. A pesquisa para encontrar
uma verdadeira poção do amor3 tem continuado até os nossos
dias, mas tal elixir ainda não foi criado, e eminentes preparadores
de poções duvidam que isto seja possível.
3 Hector Dagworth-Granger, fundador da Mui Extraordinária
Sociedade dos Preparadores de Poções, explica: "Violentas
paixonites podem ser induzidas por um competente preparador de
poções, mas até hoje ninguém conseguiu criar o vínculo
verdadeiramente incondicional, eterno, irrompível, o único que
pode ser chamado de Amor."
O herói desse conto, no entanto, não está sequer interessado em
um simulacro de amor que ele possa criar ou destruir a seu belprazer.
Quer permanecer imune àquilo que ele considera uma
espécie de fraqueza e, portanto, executa um feitiço das trevas
que não seria possível fora de um livro de histórias: guarda a sete
chaves o seu coração.
Muitos autores observaram a semelhança deste ato com a criação
de uma Horcrux. Embora o herói de Beedle não esteja
procurando evitar a morte, como Tom Riddle, está separando o
que evidentemente não deve ser separado — o corpo e o coração —
e, ao fazê-lo, infringe a primeira das Leis Fundamentais da Magia
de Adalberto Waffling:
Somente interfira com os mistérios mais profundos — a origem da
vida, a essência do eu — se estiver preparado para enfrentar as
consequências mais extremas e perigosas.
E, efetivamente, ao procurar se tornar sobre-humano, esse jovem
imprudente se torna inumano. O coração que ele guardou,
escondido, lentamente murcha e cria pêlos, simbolizando sua
própria descida à animalidade. Finalmente, o bruxo é reduzido a
um violento animal que arrebata o que quer à força, e morre na
inútil tentativa de recuperar aquilo que, então, estava para
sempre fora do seu alcance - um coração humano.
Embora um tanto antiquada, a expressão inglesa "ter um coração
peludo" foi incorporada à linguagem cotidiana para descrever um
bruxo ou bruxa frio ou insensível. Honória, minha tia solteirona,
sempre alegou que desmanchara um noivado com um bruxo da
Seção de Controle do Uso Indevido da Magia porque descobriu em
tempo que "ele possuía um coração peludo". (Corria, porém, o
boato de que, na realidade, ela o surpreendera acariciando
libidinosamente uns toletes,4 o que julgou profundamente
chocante.) Mais recentemente, o livro de auto-ajuda O coração
peludo: um guia para bruxos que não querem se comprometer (5)
encabeçou a lista dos mais vendidos.
4 Toletes são seres rosados, semelhantes a cogumelos cerdosos. É
difícil entender por que alguém iria querer acariciá-los. Maiores
informações em Animais fantásticos & onde habitam.
5 Não deve ser confundido com Focinho peludo, coração humano,
um relato comovente da luta de um homem contra a licantropia.


4 Toletes são seres rosados, semelhantes a cogumelos cerdosos. É
difícil entender por que alguém iria querer acariciá-los. Maiores
informações em Animais fantásticos & onde habitam.
5 Não deve ser confundido com Focinho peludo, coração humano,
um relato comovente da luta de um homem contra a licantropia.

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