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domingo, 24 de outubro de 2010

Os contos de Beedle, o bardo - O bruxo e o caldeirão saltitante


O bruxo e o caldeirão saltitante

Era uma vez um velho bruxo muito bondoso que usava a magia com generosidade e sabedoria para beneficiar seus vizinhos. Em vez de revelar a verdadeira fonte do seu poder, ele fingia que suas poções,
amuletos e antídotos saíam prontos de um pequeno caldeirão a que ele chamava de sua panelinha da sorte. De muitos quilômetros ao redor, as pessoas vinham lhe trazer seus problemas, e o bruxo, prazerosamente, dava uma mexida na panelinha e resolvia tudo.
Esse bruxo muito querido viveu até uma idade avançada e, ao morrer, deixou todos os seus bens para o único filho. O rapaz,
porém, tinha uma natureza bem diferente da do bom pai. Na sua
opinião, quem não sabia fazer mágicas não valia nada, e ele muitas
vezes discordara do hábito que o pai tinha de ajudar os vizinhos
com sua magia.
Quando o velho morreu, o jovem encontrou escondido no fundo da
velha panela um embrulhinho com o seu nome. Abriu-o na
expectativa de ver ouro, mas, em lugar disso, encontrou uma
pantufa grossa e macia, pequena demais para ele e sem par. Dentro
dela, um pedaço de pergaminho trazia a seguinte frase:
"Afetuosamente, meu filho, na esperança de que você jamais
precise usá-la."
O filho amaldiçoou a caduquice do pai e atirou a pantufa no
caldeirão, decidindo que passaria a usá-lo como lixeira.
Naquela mesma noite, uma camponesa bateu à porta da casa.
— Minha neta apareceu com uma infestação de verrugas, meu
senhor. O seu pai costumava preparar um cataplasma especial
naquela panela velha...
— Fora daqui! — exclamou o filho. — Que me importam as
verrugas da sua pirralha?
E bateu a porta na cara da velha.
Na mesma hora, ele ouviu clangores e rumores que vinham da
cozinha. O bruxo acendeu sua varinha e abriu a porta, e ali, para seu
espanto, viu que brotara um pé de latão na velha panela do pai, e
o objeto pulava no meio da cozinha fazendo uma zoada assustadora
no piso de pedra. O bruxo se aproximou admirado, mas recuou
ligeiro quando viu que a superfície da panela estava inteiramente
coberta de verrugas.
— Objeto nojento! — exclamou ele, e, com feitiços, tentou primeiro
fazer desaparecer o caldeirão, depois limpá-lo e, por fim, expulsá-lo
de casa. Nenhum dos feitiços, porém, fez efeito, e ele não pôde
impedir o caldeirão de segui-lo saltitante para fora da cozinha, e
depois subir com ele para o quarto, alternando batidas surdas e
estridentes a cada degrau da escada de madeira.
O bruxo não conseguiu dormir a noite toda por causa das batidas da
velha panela verrugosa ao lado de sua cama, e, na manhã seguinte,
a panela insistiu em acompanhá-lo, aos saltos, à mesa do café-damanhã.
Plem, plem, plem fazia o pé de latão, e o bruxo ainda nem
começara o seu mingau de aveia quando ouviu outra batida na
porta. Havia um velho parado na soleira.
— É a minha velha jumenta, meu senhor — explicou ele. —
Perdeu-se ou foi roubada, e sem ela não possuo levar os meus
produtos ao mercado e minha família passará fome hoje à noite.
— Com fome estou eu agora! — bradou o bruxo, e bateu a porta
na cara do velho.
Plem, plem, plem fez o caldeirão no chão com aquele seu único pé
de latão, mas agora o estrépito se misturava aos zurros de um
jumento e aos gemidos humanos de fome que vinham de suas
profundezas.
— Pare! Silêncio! — guinchou o bruxo, mas todos os seus poderes
mágicos não conseguiram calar a panela verrugosa, que o
seguiu saltitando o dia todo, zurrando e gemendo e
clangorando, aonde quer que ele fosse ou o que quer que
fizesse.
Naquela noite ouviu-se uma terceira batida na porta, e ali, na
soleira, estava parada uma jovem mulher soluçando como se o seu
coração fosse partir de dor.
— O meu filhinho está gravemente doente — disse ela. — Por favor,
pode nos ajudar? Seu pai me disse para vir se tivesse algum pro...
Mas o bruxo bateu a porta na cara da jovem.
E agora a panela atormentadora se encheu até a borda de água
salgada e derramou lágrimas por todo o chão enquanto pulava,
zurrava, gemia e fazia brotar ainda mais lágrimas.
Embora, pelo resto da semana, nenhum outro aldeão tivesse vindo
à cabana do bruxo buscar ajuda, a panela o manteve informado dos
seus muitos males. Em poucos dias ela não estava apenas zurrando,
gemendo, transbordando, pulando e brotando verrugas, mas
também engasgando e tendo ânsias de vômito, chorando como um
bebê, ganindo feito um cão e cuspindo queijo estragado, leite
azedo e uma praga de lesmas vorazes.
O bruxo não conseguia dormir nem comer com a panela ao seu
lado, mas ela se recusava a sumir dali, e ele não podia silenciar nem
forçar o caldeirão a parar.
Por fim, não aguentou mais.
— Tragam-me todos os seus problemas, todas as suas preocupações
e todas as suas tristezas! — gritou, fugindo noite adentro, com a
panela perseguindo-o aos saltos pela estrada que levava à aldeia. —
Venham! Deixem que eu cure vocês, recupere vocês e console vocês!
Tenho a panela do meu pai e vou remediar tudo!
E, com a detestável panela ainda a persegui-lo saltitante, ele correu
pela rua principal lançando feitiços para todos os lados.
Dentro de uma casa, as verrugas da garotinha desapareceram
enquanto ela dormia; a jumenta perdida foi trazida de um urzal
distante e suavemente deixada em seu estábulo; o bebê doente foi
umedecido com ditamno e acordou bom e rosado. Em todas as casas
em que havia doença e tristeza, o bruxo fez o melhor que pôde, e
gradualmente a panela ao seu lado parou de gemer e ter ânsias de
vômito, e sossegou, reluzente e limpa.
- E então Panela? — perguntou o bruxo trêmulo, quando o sol
começou a despontar.
A panela arrotou o pé de pantufa que ele havia jogado em seu
fundo, e permitiu que o bruxo o calçasse em seu pé de latão.
Juntos, eles regressaram à casa, os passos da panela finalmente
abafados. Mas, daquele dia em diante, o bruxo passou a ajudar os
aldeões exatamente como fazia seu pai, antes dele, para que a
panela não descalçasse a pantufa e recomeçasse a saltitar.
Comentários de Alvo Dumbledore sobre "O bruxo e o caldeirão
saltitante".
Um velho bruxo generoso resolve dar uma lição ao filho insensível,
apresentando-lhe uma amostra do sofrimento dos trouxas locais.
Desperta assim a consciência do jovem mago, que concorda em
usar sua magia em benefício dos vizinhos não-mágicos. A primeira
vista, uma fábula simples e comovente, ao crer nisso, a pessoa se
revelaria uma pobre inocente. Uma história pró-trouxas, retratando
um pai que ama os trouxas e é superior em magia a um filho que os
detesta? É no mínimo surpreendente que qualquer cópia da
versão original desse conto tenha sobrevivido às chamas a que
frequentemente foi lançada.
Beedle estava fora de sintonia com seu tempo ao pregar uma
mensagem de amor fraternal aos trouxas.
No início do século XV, a perseguição de bruxos se intensificava
por toda a Europa. Muitos na comunidade mágica achavam, com
toda a razão, que se oferecer para lançar um feitiço no porco
doente do vizinho trouxa equivalia a se oferecer para buscar lenha
para sua pira (1). "Que os trouxas se arranjem sozinhos!”,
bradavam os bruxos ao mesmo tempo em que se afastavam cada
vez mais dos seus irmãos não-mágicos, um movimento que
culminou no Código Internacional de Sigilo em Magia, em 1689,
data em que eles entraram por livre e espontânea vontade na
clandestinidade.
(1) É verdade que os bruxos e bruxas legítimos tinham razoável
experiência em escapar da fogueira, do cepo e da forca (ver meus
comentários sobre Lisette de Lapin nas notas sobre "Babbitry, a
Coelha, e seu Toco Gargalhante"). Contudo, ocorreram de fato
numerosas mortes: Sir Nicholas de Mimsy-Porpington (em vida, um
bruxo na corte real e, na morte, o fantasma da Torre da Grifinória)
revê sua varinha confiscada antes de ser trancado em uma
masmorra, e assim ficou impedido de usar magia para fugir à sua
execução; e as famílias bruxas eram particularmente sujeitas a
perder membros mais jovens, cuja inabilidade para controlar seus
poderes mágicos os tornava conspícuos e vulneráveis aos
caçadores de bruxos.
Contudo, sendo as crianças como são, o grotesco caldeirão
saltitante cativou sua imaginação. A solução foi eliminar a moral
pró-trouxa, mas preservar o caldeirão verruguento, e, já na
metade do século XVI, uma nova versão do conto circulava
amplamente entre as famílias bruxas. Na história revista, o
caldeirão saltitante protege um inocente bruxo dos seus vizinhos
armados de archotes, afugentando-os de sua cabana, capturandoos
e engolindo-os inteiros. No final da história, quando a panela já
consumiu a maioria dos vizinhos, o bruxo obtém, dos poucos
aldeões que restaram, a promessa de que o deixarão praticar sua
magia em paz. Em troca, ele instrui a panela a devolver as vítimas,
que são devidamente arrotadas de suas profundezas, ligeiramente
estropiadas. Até hoje, algumas crianças bruxas ouvem apenas esta
versão revista contada por seus pais (em geral antitrouxas), e a
original, se e quando a lêem, é uma grande surpresa.
Conforme sugeri anteriormente, no entanto, o sentimento prótrouxa
não foi a única razão pela qual "O bruxo e o caldeirão
saltitante" atraiu indignação.
À medida que a caça aos bruxos se encarniçava, as famílias bruxas
começaram a levar vidas duplas, usando Feitiços de Ocultação
para proteger a si mesmas. Por volta do século XVII, qualquer
bruxo, homem ou mulher, que confraternizasse com trouxas se
tornava suspeito, e até marginalizado em sua própria comunidade.
Entre os muitos insultos lançados contra os pró-trouxas (os
sugestivos epítetos de "chafurdeiro", "lambe-bosta" e "baba-ralé"
datam desse período), havia a acusação de praticarem uma magia
ineficaz ou inferior.
Bruxos influentes da época, como Bruto Malfoy, editor de Feitiçaria
Aguerrida, um periódico anti-trouxa, perpetuou o estereótipo de
que um bruxo amante de trouxas era tão mágico quanto um
bruxo abortado (2). Em 1675, Bruto escreveu:
(2) [O bruxo abortado ou aborto é o filho de pais bruxos que não
possui poderes mágicos. Tal ocorrência é rara. Os bruxos e bruxas
filhos de pais trouxas são muito mais comuns. JKR]
Isto podemos afirmar com segurança: qualquer bruxo que
demonstre apreciar a sociedade dos trouxas tem uma fraca
inteligência e uma mágica tão débil e digna de pena que ele só
pode se sentir superior quando se cerca de porqueiros trouxas.
Nada é um sinal mais infalível de mágica ineficaz do que a fraqueza
para conviver com não-mágicos.
Este preconceito foi gradualmente se extinguindo em face da
avassaladora evidência de que alguns dos bruxos (3) mais
brilhantes do mundo foram, para usar o termo comum, "amantes
dos trouxas".
(3) Como eu próprio.
A objeção final a "O bruxo e o caldeirão saltitante" ainda hoje
permanece viva em certos setores. Beatrix Bloxam (1794-1910),
autora do abominável Os contos do chapéu-de-sapo, foi, talvez,
quem melhor resumiu a questão. A sra. Bloxam acreditava que Os
contos de Beedle, o Bardo prejudicavam as crianças por sua
"mórbida preocupação com assuntos horrendos como morte,
doença, derramamento de sangue, magia perversa, personagens
perniciosos, e efusões e erupções corporais dos tipos mais
repugnantes".
A sra. Bloxam reuniu uma coleção de histórias antigas, inclusive
várias de Beedle, e reescreveu-as de acordo com os seus ideais,
que, em suas palavras, "incutiam nas mentes puras dos nossos
anjinhos saudáveis pensamentos de felicidade, mantinham o seu
doce repouso livre de sonhos maus e protegiam a preciosa flor de
sua inocência". Lemos no parágrafo final da pura e valiosa
reescritura de "O bruxo e o caldeirão saltitante":
Então a panelinha dourada dançou de prazer — tim tirim tim! —
batendo seus pezinhos rosados! Willyzinho tinha curado as
barriguinhas dodóis de todas as bonequinhas, e a panelinha ficou
tão feliz que se encheu de docinhos para Willyzinho e suas
bonequinhas! "Mas não se esqueça de escovar os seus dentinhos!",
gritou a panela.
E Willyzinho abraçou e beijou o caldeirão saltitante e prometeu
sempre ajudar as bonequinhas e jamais voltar a ser ranzinza.
O conto da sra. Bloxam provocou a mesma reação em gerações de
crianças bruxas: incontroláveis ânsias de vômito, seguidas por
imediatos pedidos para que alguém levasse o livro e o
transformasse em pasta.

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